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Foto do escritorFernanda Cristina Dias

Coaching substitui Psicanálise?


Muitas pessoas têm me perguntado qual a diferença essencial entre Psicanálise e Coaching. Outras, dizem que não precisam fazer Psicanálise porque já fazem Coaching. Portanto, utilizando uma analogia (já utilizada no post Qual a diferença entre Psicanálise e Coaching), tentarei responder esta pergunta.

Imagine um terreno, observe sua extensão, seu formato e sua topografia. Veja também qual a característica do solo e se ele é iluminado.

Agora, vamos tentar entender o que existe por debaixo desta superfície. Quais são os elementos constituintes deste terreno? É de formação rochosa, arenoso ou produto de uma erosão? É seco ou úmido? O que vemos debaixo é condizente com a superfície? Qual a história deste terreno? Desde quando existe e como se formou?

Obtendo uma visão ampliada sobre esta mesma superfície, podemos distanciar cada vez mais nosso olhar para tentarmos entender como a história deste terreno mistura-se à história do local em que ele se encontra.

Quais são as características do lugar? Fica em qual vilarejo, cidade e estado? É pertencente a qual país? E a qual planeta? Como o lugar interfere nas características do terreno?

Aos olhos de um observador você é a superfície deste terreno. É a forma como se mostra ao mundo.

Mas, o que você esconde por baixo da superfície? Quando analisamos sua história e o processo de amadurecimento que vem sofrendo desde o seu nascimento, entendemos sua constituição, seu mundo psíquico. Esta é a sua singularidade, sua condição de sujeito, sua forma particular e pessoal de estar no mundo.

Este é o objetivo da Psicanálise. Entender, por exemplo, porque neste momento o terreno apresenta ranhuras, algumas profundas, outras superficiais e qual a história de cada uma delas e desta forma, como lidar com esta realidade e evitar repetições.

A Psicanálise é um campo clínico e de investigação teórica da psique humana desenvolvido pelo médico Sigmund Freud em meados de 1890, que trouxe conceitos revolucionários para os fundamentos da Psicologia. A partir de Freud, há uma vasta pesquisa científica desenvolvida por psicanalistas pós-freudianos que ao longo do tempo vêm atualizando a práxis psicanalítica. Para tornar-se de fato psicanalista é preciso ter uma formação rigorosa por meio de um tripé estrutural: análise pessoal, supervisão clínica e fundamentação teórica, além de uma carga prática de atendimentos. Esta formação geralmente dura de 2 a 4 anos. Desta forma, apenas profissionais "psi" estão aptos a ocupar este papel (sejam psicólogos com formação em psicanálise ou outros profissionais da saúde que possuam esta formação).

Já o Coaching é uma técnica que surge com o objetivo de resolver questões referentes ao trabalho e que tem como foco o desempenho do sujeito e as questões relacionadas à carreira profissional. Profissionais habilitados para esta função são certificados e não se exige em princípio uma especialização como na Psicanálise.

Existem excelentes profissionais trabalhando há anos com esta técnica e outros recém-chegados, ávidos por darem um conselho aqui, outro acolá. Atualmente a técnica tem ganhado destaque com promessas milagrosas de bem estar e resolução de problemas, passando a impressão de ser esta uma substituta do setting analítico ou de qualquer outra forma de psicoterapia. De fato, falar sobre o trabalho e sobre as questões que angustiam podem trazer bem estar. Mas, o trabalho e o sofrimento decorrente dele é apenas uma das partes de uma estrutura; é a ponta do iceberg. Assim, Coaching não substitui Psicanálise.

Pensar apenas na superfície e negligenciar a história do terreno altera apenas o que é visível aos olhos (em uma linguagem psicanalítica, apenas o que diz respeito à consciência). Sem dúvida, esta pode ser uma possibilidade momentânea. Mas, se em algum momento o iceberg não puder emergir do oceano e mostrar seu tamanho real, continuará produzindo características físicas externas que continuamente gerarão angústia e produzirão sofrimento, já que o problema real nunca é tocado.

Em relação ao Coaching o cardápio é muito vasto. Desde cursos de certificação de um final de semana a cursos mais avançados que incluem parte teórica e prática, compostos por vários módulos. Em relação aos profissionais, desde aqueles que agem com profissionalismo e entendem os benefícios e as limitações da técnica até aqueles que se aventuram a tratar das questões psíquicas do coachee mesmo não tendo esta formação.

O "mundo psi" é realmente fascinante e não raro as pessoas se colocam na posição de psicólogo ou psicanalista.

Desta forma, preste atenção na forma como o profissional se apresenta e nos resultados que promete. Procure indicações e não se iluda com respostas prontas. A vida por si só é muito difícil e é ilusório pensar que tudo pode ser resolvido de imediato. O sofrimento é um analisador e sempre comunica algo do sujeito. Esta comunicação precisa ser alcançada por um ouvido atento e não abafada por uma escuta surda.

Tanto o Coaching quanto a Psicanálise podem proporcionar experiências transformadoras quando aplicados às condições a que se prestam atender. Fora disso, é puro oportunismo.


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