Você já assistiu o documentário: "O dilema das redes"? Se não, deveria assistir... Estamos sob o comando dos algoritmos e viramos o produto que é vendido aos anunciantes. Sim, você é um produto. Neste momento, nesta rede social, neste post, estamos sendo comercializados e este documentário, trata disso. Há um sistema de manipulação da realidade em que tudo o que você pensa é reforçado, gerando a falsa sensação de viver em um mundo em que todos te entendem e concordam com você. É a onipotência infantil até as últimas consequências, que gera lucro.
Em termos #psíquicos, isso leva a uma vida falsa, sem nenhuma possibilidade de lidar com sentimentos reais de solidão, tristeza, frustração, típicos da existência. No extremo, quando estes afetos emergem, não existe um eu real que os sustente e assim, a vida torna-se insuportável. A passagem para o ato, em forma de #suicídio, #adicção e #cutting, por exemplo, tanto praticados no mundo atual, é uma tentativa desesperada de sentir algo, uma passagem direta pela via do corpo, sem possibilidade de simbolização ou elaboração da dor existencial (o suicídio pode ser uma tentativa ilusória de recomeçar e uma espécie de analgesia radical). Esta lógica reforça a dissociação entre mente e uma existência psicossomática.
De maneira geral, o que mais trabalho em minha clínica é o tema da #dissociação, a #esquizoidia da pessoa aparentemente "normal" aos olhos da sociedade, mas que carrega um abismo em relação à sua existência, sentida como falsa: ela só trabalha, só estuda, só tem metas, só vive quando estimulada a cumprir objetivos vindos de fora e é aplaudida por chefes, pais e sociedade em geral. Mas, aquele menino ou aquela menina que só estuda, aquele executivo ou aquela executiva que só trabalha, podem estar em profunda dor, mas não encontram lugar para colocá-la. Afinal, a melhor aluna da sala tem direito de reclamar de alguma coisa? A executiva ou o funcionário exemplar, encontra lugar para falar sobre suas falhas? Daí a minha crítica a terapias que só trabalham a esfera dos comportamentos, do funcionamento mental e das cognições e que até passam “lição de casa”, numa espécie de “pedagogização” da mente. Vá lá, estude sobre você, se reprograme – tudo é sob a ótica do conhecimento. Psicólogos e coaches que funcionam como engenheiros de software do Google. Como me lembrou uma colega psicanalista que admiro muito: “A existência se equilibra na cabeça de um alfinete". E isso serve para todos nós, sem exceção. Não se iluda!
No documentário, fala-se muito de psicologia, mente e comportamento, e como empresas como #Facebook, #Google, #Twitter, utilizaram deste recurso para criar a rede ilusória e reforçar a dissociação entre mundo mental e existência psicossomática a serviço do capital. Portanto, estas práticas não abalam simplesmente a #saúdemental; a grande consequência está nas questões da existência e da manutenção do traço humano na vida das pessoas. O reforço do que é "mental", dissociado da existência, é o estrago que eles criaram. Temos que recuperar pessoas inteiras e não apenas a capacidade de serem "mentais". Aliás, é aí que habita o grande abismo.
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